A POLÊMICA SOBRE AS CAUSAS DO HOMOSSEXUALISMO.





Por RAYMUNDO DE LIMA
Professor do DFE-UEM e membro da BFC-Centro de Psicanálise, de Curitiba

"Mas, onde foi que eu errei?!!". Essa é a pergunta que sempre aparece no final de um quadro humorístico do pai que se sente culpado de ter um filho homossexual. Com a maior tolerância da sociedade, sobretudo da mídia, aos homossexuais, muitas famílias ainda se escandalizam e pais demonstram ansiedade diante da possibilidade de seu filho "homem" possa um dia revelar essa tendência psicossexual.
Há controvérsias se o homossexualismo é determinado geneticamente, se é resultado da educação ou do meio ambiente em que a pessoa é criada. O neurobiólogo Roges Goski (Universidade da Califórnia, EUA) fez experiências em laboratórios com ratos e seres humanos, ambos fêmeas, que receberam testosterona (o hormônio masculino) ainda em fase intra-uterina e observou que, desde a primeira fase da vida, elas tinham comportamentos masculinos, como gostos, brincadeiras mais agressivas além de sentirem-se mais atraídas por fêmeas.
Já o geneticista Dean Hamer (Instituto Nacional de Saúde dos EUA) sustenta  a tese de que  homossexualismo tem determinação genética. O geneticista diz ter descoberto genes numa determinada região, que ele chamou de GAY-1, associados ao homossexualismo. Tal hipótese não teve muita credibilidade no meio científico americano, mas seus defensores dizem  haver uma lógica: "se os genes transmitem as características hereditárias e contêm 'instruções' para a fabricação das substâncias que fazem os organismos funcionarem, também poderia lançar a probabilidade de homossexuais (assumidos ou não) terem filhos também homossexuais. É uma tese que coloca o homossexualismo não como uma opção ou estilo de vida, mas como resultado de uma variação genética.
Contrário a essa tendência bio-geneticista das causas do homossexualismo, estão os psicólogos e psicanalistas. Não se nega que a base genética de nossas características humanas ou as tendências que temos de desenvolver algumas doenças, por exemplo, tem base genética, mas daí incluir o homossexualismo como quase-doença geneticamente determinada é, no mínimo, simplismo científico.
Daryl Bem, psicólogo da Universidade de Cornell (EUA), pesquisa a formação intra-familiar do homossexual. Quais brincadeiras uma pessoa preferia quando criança, seus gostos por roupas, jóias, tipo de relação com a mãe, com o pai, etc. e concluiu que os incidentes do desenvolvimento, o tipo de investimento familiar e as tendências da própria pessoa, todos esses fatores pesam muito mais na determinação do homossexualismo do que os fatores genéticos.
A nova geração de psicólogos americanos a partir de Judith Harris tende a valorizar as vivências "fora" da família, isto é, as relações interpessoais com vizinhos, colegas da escola e da rua, como fatores que mais pesam no desenvolvimento da personalidade.  Nesse sentido, meninos que se comportam segundo o estereótipo de menino (gostam de brincadeiras mais agressivas, se identificam com heróis, gostam de aventuras, ação, são menos obedientes e se encrencam na escola por má conduta mais que as meninas etc) se diferenciam delas que costumam ter um jeito mais suave e introspectivo. O "normal" nessa cultura é esperar que os meninos sintam-se atraídos pelas mulheres, mas não em ser como elas. Porém, sobram perguntas sem respostas satisfatórias. Como entender as pessoas que desde crianças sentem-se atraídas pelo estilo das meninas? Será que, só por essa tendência, fatalmente desenvolverão homossexualismo ou será apenas uma fase passageira? E as meninas que admiram mais as meninas, que são fascinadas por pessoas famosas, será que estão sendo atraídas a se tornarem homossexuais ou trata-se somente de simples admiração?
De nossa parte, esclarecemos que tanto meninos quanto meninas, até a fase da adolescência, não podemos afirmar que serão homossexuais quando adultos, só por terem gostos e jeito do sexo oposto. São fases em que é normal é a presença de estereótipos, facilmente copiados na mídia e repetidos nos gestos, mímica, falas, etc. Ademais, se eles estão ainda em formação total da personalidade, inclui também a psicossexualidade ou sua definição sexual.
Os estudos de Freud, no início do séc. 20, jogaram um pouco de luz nas causas da homossexualidade. Para o pai da psicanálise, três fatores parecem determinar o homossexualismo: a forte ligação com a mãe, a fixação na fase narcísica e o complexo de castração. No primeiro, o homossexualismo teria início devido a uma forte e incomum fixação com a mãe o que impediria essa pessoa de se ligar a outra mulher. O segundo fator, o narcisismo, faz com que a pessoa tenha menos trabalho em se ligar ao seu igual que em outro sexo. A estagnação na fase narcísica faria com que "o amor fosse para eles sempre condicionado por um orgão genital semelhante ao deles" (Ferenczi). O terceiro fator, aponta problemas relativos à travessia da castração, isto é, sofrimentos relativos as perdas e a idéia de morte que deixariam a pessoa acomodada ou acovardada na sua psicossexualidade.
Em verdade, não podemos escapar do fato de que somos todos ambissexuais.  Esse termo proposto por S. Ferenczi, em 1914, é ainda útil para exprimir que a criança, num certo estádio do seu desenvolvimento normal, manifesta sentimentos anfieróticos, quer dizer, ela pode transferir sua libido ao mesmo tempo para o homem (o pai) e para a mulher (a mãe). Observa-se em qualquer cultura do mundo -- incluso também a nossa -- que as pessoas tendem a ter atração pelo mesmo sexo e se distanciam do sexo oposto, ou seja, as amizades são mais fáceis de acontecer entre homens e só de mulheres entre si. Não faz muito tempo, as escolas separavam salas de aulas só de meninas e outras só com meninos, numa evidente opção institucional e inconsciente pela "homossexualidade".  Até hoje, no interior brasileiro, assim como no mundo oriental, os hindús, os árabes, se sentem mais próximos dos homens que de mulheres. Nessas culturas, não há preconceito quanto a homossexualidade, vista nos grupos de danças, nas rodas de jogos, nas conversas e brincadeiras. Esses grupos se organizam segundo as regras da homossexualidade (quer dizer: "igual sexo") e, no entanto, ao que parece não chegam a ser homossexuais. Por quê? Talvez pelo complexo de castração, o terceiro fator acima proposto pela psicanálise.
De qualquer forma, ainda não foram respondidas a contento as questões: por que algumas pessoas tem preferências ou tendências homossexuais? Será que o homossexualismo não passa de uma espécie de inveja do outro sexo; que deseja ter o jeito do outro sexo? Ou, seu desejo primeiro é não ter desejo, nem ser "macho", nem "fêmea", mas de ser o terceiro sexo? Qual o limite da determinação genética quanto a homossexualidade e o homossexualismo? E a influencia desta com os fatores ambientais e a significação atribuída ao próprio sujeito desejante?
No momento, os estudiosos parecem estarem de acordo em somente um ponto: não há uma única causa quanto ao que determina o homossexualismo.
Os pais em geral deveriam educar seus filhos para uma sexualidade sadia, sem preconceitos ou sofrimentos desnecessários. Deveriam ter melhor preparo, mais esclarecimentos e sobretudo saber escutá-los nas suas dificuldades e dúvidas.  Os  pais de homossexuais, não mais deveriam  se perguntar "Onde foi que eu errei?", mas "Como devo proceder-me para que essa pessoa seja feliz?", porque em verdade, o amor não ter sexo.

16 comentários:

  1. Feliz segunda-feira!!!!
    Mantendo a neutralidade na opinião, digo que seu texto está excelente, claro sempre excelente.
    Abraço fraterno
    Nicinha

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    1. PERSEVERANÇA,

      na maioria das vezes uma neutralidade inicial é um bom sinal de partida, para um posicionamento.
      posterior.

      Um abração carioca, Nicinha.

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  2. Boa tarde,
    texto perfeito, os preconceitos sobre a homossexualidade não tem razão de existir atualmente, todos sabemos a razão da mesma e que ninguém pediu para nascer homossexual, também sabemos que são tão uteis para a sociedade como outra pessoa qualquer. mais sabemos que também não é uma doença nem uma opção.
    Abraço
    ag

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    1. EXISTE SEMPRE UM LUGAR,

      sem dúvida, não se avalia a importância social de um ser humano, por aquilo que ele determinou com o opção de gênero para ele.

      Um abração carioca.

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  3. Estudiosos do assunto discutem, concordam, discordam entre si sobre as várias causas do homossexualismo, mas, realmente, aos pais cabe é dar carinho, afeto, amor e atenção aos filhos. A cobrança, em relação a eles, deve ser enfatizada na sua educação, socialização, humanização, saúde, visando propiciar-lhes um futuro com qualidade de vida, de modo que sejam capazes de buscarem e encontrarem a sua felicidade profissional e pessoal, independentemente das expectativas dos pais. É o que penso. E, obrigada pela sua resposta na postagem anterior. Abraços.

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    1. LEISE PAIM,

      eu é que agradeço a sua presença e seus comentários competentes e fundamentados.

      Este seu ponto de vista, por exemplo é uma prova disso, pois você continua apostando no valor e capacidade familiar de gerar resultados ótimos de adaptabilidade , seja ela qual for a opção dos seus filhos, mas que sempre irão obter melhores resultados em suas vidas, dependendo dos sentimentos afetivos e incondicionais dos pais.

      Penso , exatamente da mesma forma!

      Um abração carioca.

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  4. Boa noite Paulo.
    Seu texto e pesquisa estão muito completos e esclarecedores.
    Li com atenção, mesmo porque essa semana o assunto foi pauta nas redes sociais pelo fim de uma novela onde houve um beijo entre homossexuais ou algo assim, eu não assisto novelas então só li por cima.
    Mas é muito polemico mesmo o assunto, e as opiniões nunca são amenas ou neutras, não mesmo, porque ou se apoia ou se é contra.
    Isso é fato, e logo gera discussão com citações de exemplos e casos que não fazem nenhum dos lados mudar a opinião já estabelecida de cada um.
    Eu não tenho na verdade nada contra, só que a cada dia me sinto mais perdida sendo heterossexual, quando questionada, me parece que todos apreciam mais quem responde que é bi do que quem é hétero.
    Isso que me assusta mais em toda em questão.
    Boa semana pra ti carioca.
    Beijão da paranaense aqui.

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    1. BELLA BLACK,

      sua colocação é extremamente válida e com a qual concordo , tanto que,em um dos meus textos "O perigo que eu vejo", numa das postagens mais antigas, refiro-me exatamente a isso, aos excessos!

      Então é o seguinte: Todas as minorias devem e têm o direito democrático de serem livres para as suas opções de todas as ordens, mas,para afirmarem-se, só não podem repudiar às maiorias de estarem exercendo também, os seus legítimos direitos.

      Sempre que isto acontece as minorias desandam em preconceitos,os quais elas tanto criticam e condenam nas maiorias, além de cometerem excessos que lhes tiram a simpatia de toda a sociedade.

      Um abração carioca.

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  5. Para além das questões genéticas e do meio ambiente , como influências indiscutíveis na formação da personalidade do ser humano, sendo este um ser biopsicosocial , não podemos esquecer a cultura, e nesta incluir a aculturação e as modas que se vão criando, pelas influências externas que nos vão chegando, no tempo e no espaço em que vivemos.
    O importante é a liberdade de cada um... e cada um, viver de acordo com os seus dogmas e preferências em plena lealdade com a sua essência.
    Uma boa semana Paulo!

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  6. CRISTINA CEBOLA,

    é isso, aí!

    Simples, lógico e extremamente explicito!

    Muita lucidez.

    Liberdade, com responsabilidade, eis as palavras chaves!

    Um abração carioca.

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  7. Bem Paulo, acabei de chegar a esse
    seu espaço, aqui precisarei de tempo para ler e
    tempo para refletir, somente depois comentarei sobre a postagem.
    Sou fascinada pelo tema em questão.
    Você é surpreendente.
    Bjins
    Catiaho Alc.

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  8. REFLEXO D'ALMA.

    chegue,leia,eu espero!
    Obrigado por sua contumaz generosidade.
    Um abração carioca.

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    1. Desculpe Paulo, mas serei prolixa.
      Bem, não vou comentar baseada em nada lido em sua bem escrita postagem.
      Na verdade esse assunto só é bem entendido quando acontece na vida da gente.
      O tal ditado:" Só quem sabe o calor d fogo é a panela" ou algo assim.
      Posso conjecturar de fora da situação, será apenas hipotético.
      Na verdade o que vai contar ao final na reação de cada pai, mãe e família é o amor.
      Agora o que leva um ser a ser ou não homossexual é ESCOLHA. Uma vez feita
      será complicado aceitar a vida heterossexual como unica.Sempre fui envolvida com gente,
      uma vez diante de um jovem que "tentava" deixar sua ESCOLHA pra trás, ele me dizia:
      Catia eu namoro uma moça faz 1 ano, vou casar com ela pra fazer minha família
      feliz, mas eu nunca terei uma vida sexual satisfatória.Nunca dou conselhos, aponto
      direções e uma delas era ele não acabar com a alegria de uma vida sexual satisfatório,
      não era justo. Conclusão,> ele não casou, saiu de casa foi viver sua vida em SP, longe da família
      que NUNCA o aceitou. Na verdade apos contrair o HIV, a familia o trouxe de SP para o RJ e o escondeu
      em casa até a morte, impedindo que amigos e até que seu parceiro estivesse junto nesses momentos dificeis, foram 8 meses de isolamento, eu como amiga só fui informada para o enterro.
      A ESCOLHA é do indivíduo. Eu particularmente não fico pensando na causa.
      Na verdade : pais, família, amigos tem apenas que AMAR e ser suporte pra
      o rojão que é viver em sociedade com essa escolha.
      Pronto falei o que acho.
      Otima sua materia. Bjs

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    2. REFLEXO D'ALMA,

      extraordinária sua análise!

      Concordo.

      Um abração carioca.

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  9. Ola Paulo, seu texto revela o quanto ainda somos ignorantes no que compete a sexualidade de nossa espécie. A análise de que fatores externos influenciam em nossas sexualidade pode ser verdadeira, mas ainda vai longe de ser conclusivo. Com nosso amigo Freud a culpa sempre foi da mãe também. Risos...
    Tratar o assunto como doença é no mínimo, um ultraje a nossa inteligência.Tenho amigos gays e não os acho doente ou coisa do tipo, e tampouco os vejo educando seus filhos para seguirem suas tendências. A única coisa que sei sobre isso é que, a escolha ainda é muito pessoal e não imposta. O homossexualismo é um tabú criado pela igreja desde a antiguidade, e vai saber se não antes, instigando o preconceito entre a população e inibindo seus sacerdotes uma vez que estes não podiam casar com mulheres e assim se manterem no celibato.Só sei que quase toda a família tem seus gays e alguns são realmente segregados a um certo desprezo sem causa. Que bom que isso agora é crime e se chama homofobia, e como a maioria acompanha a modismos... Logo nos preocuparemos com assuntos mais relevantes do que este, saber quem deita com quem.
    Mais um detalhe Paulo, se meu filho ou filha fosse homossexual eu ia ficar triste por preocupação, porque encarar nossa sociedade curtida de preconceito, um gay precisa ser macho poderoso mesmo!
    Grande texto Paulo!
    Forte abraço amigo carioca e um beijo da Gue.

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  10. GUE,

    a lucidez do seu comentário,reflete e é, a consequência direta da objetividade do seu raciocínio e inteligencia!

    "Um gay precisa ser macho poderoso mesmo" é uma lapidar expressão usada por você e que não deixa pedra sobre pedra para explicar e detectar o nível de preconceito da nossa sociedade, apesar de alguns avanços nesta área.

    Um abração carioca.

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