CAMPEONATO.

Vai começar a partida.

Início de jogo é sempre de provocações, escondendo o respeito e o medo.
Tentamos desestabilizar a segurança do adversário, usamos as armas da retórica.
Ao irmos para o meio do campo para começar a partida, nos olhamos em desafio, lados opostos, imaginando o que vai acontecer e, claro, querendo ganhar o jogo.
E começa o clássico, EU X VOCÊ.
Vou rolando a bola, você marcando em cima.
Dou um passe pra mim mesmo, mato no peito e avanço com a bola controlada.
Você me rouba a bola e dispara em sentido contrário.
Corro atrás, tento retomar a redonda, tento uma, você escapa, tento duas, você consegue retomar, tento três e faço falta.
Você ri e cobra, mandando a bola pra você, já centroavante.
Disparo pra posição de zagueiro, me coloco e você chuta.
Pontaria errada. Ansiedade demais faz errar o chute e é tiro de meta.
Goleiro que sou, me preparo pra lançar a bola para o campo adversário. Chuto e corro pra chegar à ela, recebo e rolo, com o peito do pé, olhando pra trás pra medir à que distância você está.
Deixo que você se aproxime e te driblo, e dou chapéu e passo-a entre suas pernas, levanto a bola com um bico e faço com que ela caia, maciamente nos meus pés atacantes, chuto com precisão mas você faz uma extraordinária defesa.
Se abraça com ela no gramado, protegendo-a de mim.
Espera que eu me afaste um pouco e lança-a com as mãos pra si mesmo, lateral esquerdo, sua posição inconteste, seu domínio.
Me atrai pra brincar de gato e rato, ri frontalmente de meu esforço pra roubar a bola, ladrão que sou.
E passa por mim como um foguete, me fazendo comer grama e escorregar.
Vai em velocidade, sem que eu, meio de campo ou zagueiro, consiga te reter.
E me vejo goleiro, frente à frente, com você, que dá uma paradinha antes de chutar à gol.
Espero ofegante, com os olhos esbugalhados e fixos o potente chute, quando soa um apito e te coloca em impedimento..
Você xinga, esbraveja, reclama, eu rio, alivio, respiro.
Impedimento benvindo.
Cobrado o impedimento, a bola é atraída por seus pés que a controla, pisa nela e escolhe a jogada por fazer.
Lança um olhar e percebe as traves desprotegidas, chamando por um gol certeiro e chuta, em curva, sem dificuldade pra acertar as redes.
E é gooooooooooooooooooooooooooollll!
Golaço! De craque, que você é.
Atinge de supetão, com precisão, jogada ensaiada e previsível.
Nesse momento, me convenço que sou time de várzea, me esforço, treino, mas não sou nenhum craque.
Tenho que respeitar medalhão, o que conhece o jogo, o que dedicou sua vida a jogar e que quer ganhar.
Aprendi a perder no jogo, sem desculpas.
Sou perna de pau, vivo contundido, perco nos dribles e não ganho nem um ponto. Unzinho, que seja.
Mas quando tiro as chuteiras e coloco os sapatos comuns, ninguém ganha de mim. Sou rei.
E, apesar de jogar mal demais, jamais cavei penalti, nunca fiz catimba e sempre cumprimentei os adversários pela vitória.
Minhas partidas sempre terminam com o respeito que o outro time merece.
Tiro o uniforme suado e sujo da batalha que perdi, tomo um bom e revigorante banho, e me preparo para o próximo jogo.
Possivelmente, perderei mais uma e mais outra e mais centenas de vezes.
Mas sou imbatível no fair play.

2 comentários:

  1. Olá Paulo,
    Em primeiro lugar agradeço sua gentil e delicada visita.
    Seus texto se assemelha a nossa vida real em todos os sentidos.
    Jogar sempre...perder faz parte, encarar a perda como ganho e novo motivo para se ir a luta novamente com novo animo, novas perspectivas...e ai se consegue marcar o gol da vitória...
    Beijos com carinho
    Marilene

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  2. MARILENE,

    obrigado você pela visita e reflexão sobre o texto com a correção de entendimento que me faz pensar que consegui passar o que queria.

    Um abração carioca.

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