POR UMA RUA ESTREITA.



Andava por uma rua estreita, destas que parecem terem sido abertas como atalhos para vidas pequenas e de corpos infelizes, inexpressivos, sem vontades ou perspectivas do amanhã.
Caminhava por uma ruela de solidão da alma e de uma vida que não acreditava mais nos arco-íris das possibilidades de uma felicidade plena e que, pudesse vir embrulhada para presente e entregue pelo carteiro da sua imaginação na sua casa agora, desencantada pelas ruínas do abandono.
Estava sôfrego e respirava como se aquela fosse a última, antes da inevitável parada de todos os seus sinais vitais que o mantinham ainda de pé no mundo que tinha um céu sombrio e com nuvens tão ameaçadoras de infelicidades que, se caíssem sobre sua cabeça o inundariam do seu próprio desejo de afogado nelas. Como se a natureza viesse a lhe prestar um favor, um derradeiro favor em vida.
Seus pés pesavam toneladas de desmotivações e suas pernas balançavam sem sentindo e ali estava um ser humano pego pelo inesperado do desamor que, agora lhe fizera uma surpresa.
Sentou-se no meio fio e olhou fixamente para um muro e observou que, entre as fendas de cimento quebrado nascia uma plantinha, muito verde, de aspecto forte e na sua ponta algo como um pequeno botão ainda em formação e que, certamente, dentro de algum tempo iria explodir em flor.
Que extraordinário, pensou. Como poderia aquele mínimo arbusto vigoroso estar brotando daquele  muro seco, abandonado e despedaçado pelo tempo implacável da destruição de tudo e de todas as coisas.
Projetou a sua vida naquela fantástica e inacreditável força da vida, capaz de encontrar nas piores situações de sobrevivência, a magia e sábia condição para sobreviver.
Hoje, esse homem é uma árvore frondosa,revigorado e pleno de amor e vida no coração e sempre que pode , visita aquela ruela estreita e olha sempre e fixamente, para aquele muro frio inóspito de pedra que, lhe ensinou como a vida não deve se render, em hipótese alguma a nenhuma diversidade e sempre encontra uma brecha para continuar.

APENAS MAL DE AMOR.



Existem alguns momentos que eu preferia estar bêbado, drogado ou simplesmente dormindo. Beber a muito tempo não o faço, drogado nunca fui e dormir até que, eventualmente passo da hora. Porém,meu medo de dormir é que eu posso sonhar sonhos bons ou pesadelos, então de que valeria ter dormido?Quero dormir para apagar, tornar sem sentido, ocultar, esquecer o agora à pouco,o ontem detestável e o amanhã incerto.
Sei que esta tendência da cama, do sono, da fuga chama-se depressão. Duas coisas eu aprendi e sigo na vida: A primeira é a de que todo sábio é humilde, então passei a ser  de uma humildade inigualável entre os mortais e, a segunda é que este sono provocado,estimulado pela desmotivação de nada querer pensar ou fazer, leva a gente ter  o que a medicina antiga chamava de vagotonia,hoje, Síndrome maníaco- depressiva!
Lembro do nome de um remédio para  a tal da vagotonia que levava os médicos invariavelmente se lembrarem e  receitar, pois, o nome do remédio era quase o da própria doença : Vagostesyl.
Atualmente existem um almanaque com centenas de remédios para essa tal de depressão.
Mas confesso que sei as razões.
Antigamente, porque as pessoas ficavam vagotônicas e desmotivadas? Invariavelmente pelo mal do amor.Era um bichinho bandido que comia o coração da gente e fazia doer o estomago.
Já essa tal de síndrome maníaco-depressiva tem tantas causas que vão desde os trânsitos caóticos, crises financeiras até a violência insana que, nem um desses livros pesados de quase mil folhas da literatura e farmacologia medica, poderia conter.
Atualmente, tudo é motivo para depressão e como são tantos, descobri então que, o que eu sinto agora é vagotonia, pois simplesmente e de forma antiga e clássica este bichinho safado do mal do amor, ele  tão somente, apenas e, exclusivamente ele, está me corroendo.
Não satisfeito fui correndo para o Aurélio que com a competência de sempre diz que vagotonia é um estado mórbido em que há hiperexcitabilidade vagal ocorrendo em conseqüência, instabilidade vasomotora, constipação, sudorese anormal, espasmos musculares involuntários e dolorosos.
Nunca pensei que este bichinho do amor,fosse tão complexo.

O SER HUMANO PARA PLATÃO.



Quem somos nós estes eternos insabidos,desconhecidos,jamais descobertos nas suas verdadeiras essências, apesar de tantas as teorias que se dispuseram a  estudar, decifrar,outras a recortar, tirar pedaços, tentar penetrar na mente e no corpo de nós, seres humanos indecifráveis?
Somos o melhor dos piores e o pior de todos os melhores com a mesma facilidade com que, ora, sustentamos teorias definitivas sobre a melhor dieta para o emagrecimento do corpo e pouco tempo depois, as condenamos, sem nenhum pudor de termos sido metidos à besta e saber de tudo e falar sobre tudo!
Quem já soube de medicações como aquelas que faziam fetos nascerem sem os membros, a famosa talidomida?
No entanto, este mesmo ser humano decretou a morte da maioria das bactérias, e outros bichos mais, quando descobriu a penicilina que já salvou milhões de vidas.
Somos assim!
Somos isto e aquilo, aquilo e aquilo outro e estamos sempre querendo mais, mais um pouco do muito e muito do muito pouco de alguém.
Ser humano incrivelmente maravilhoso ou idiotamente cego por ideologias, abertos a todas as inovações ou então, fechado para balanço,como aqueles que nem querem saber do que se passa à sua volta.
O claustro de uma alienação voluntária.
Ser humano inclassificável até mesmo para os maiores filósofos do mundo e seus discípulos brilhantes, como foi o caso do grego Platão que, no seu diálogo Político quando afirmou que: 
"O homem era um bípede implume (sem penas)".
Então, o cínico Diógenes e seu fiel opositor andou pela ruas de Atenas com uma galinha viva depenada e dizendo para todos que, aquilo era o homem para Platão.
Platão precisava de resposta e reuniu-se por vários dias com seus discípulos e contra-atacou àquela retaliação jocosa e debochada de Diógenes refazendo sua teoria e agora afirmando que:
"O homem é um bípede implume de unhas largas".
Realmente, unhas largas as galinhas não possuem!